O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prepara-se
para financiar as sondas de perfuração que vão operar em águas ultraprofundas
para a Petrobras. Os valores envolvidos são bilionários e ainda não foi definido
o desembolso total do banco para esses contratos. Uma estimativa da
superintendência de insumos básicos do BNDES indica que o financiamento do banco
pode chegar a R$ 15 bilhões. O valor considera a construção de 28 sondas
encomendas pela Petrobras à Sete Brasil que devem ter índice de nacionalização
médio de 55%.
O número difere em quase US$ 5 bilhões do projetado pela empresa Sete Brasil,
que conta com financiamentos do BNDES de US$ 13,5 bilhões dentro de um
investimento total no projeto, incluindo custos de construção e dos
financiamentos, de US$ 27 bilhões. Já as contas do banco consideram um valor
total para as 28 sondas de US$ 23,24 bilhões considerando um valor médio por
unidade de US$ 830 milhões.
Uma explicação para a diferença de valores pode estar no percentual de bens e
serviços nacionais a ser financiado pelo BNDES. O banco não informa qual será
exatamente esse percentual, mas sugere um teto de até 80% na parte de serviços
elegíveis para financiamento e de até 100% nos equipamentos, segundo Roberto
Zurli, diretor das áreas de insumos básicos e infraestrutrura do banco. Em seu
exercício para chegar a R$ 15 bilhões, o superintendente da área de insumos
básicos, Rodrigo Bacellar, considerou ainda a taxa de câmbio de R$ 1,70 por
dólar.
O presidente da Sete Brasil, João Carlos Ferraz, disse que a empresa tem
carta do BNDES que garante financiamento de 80% do conteúdo local das sete
primeiras sondas. Essas unidades terão índice de nacionalização de 62%, o que,
considerando o conteúdo local de 80%, garantem financiamento de 50% do valor das
sondas, segundo o executivo. As sete unidades vão custar US$ 5,2 bilhões, o que
resultaria em financiamento do banco de US$ 2,6 bilhões, afirmou Ferraz. Ele
projeta essa mesma estrutura financeira para chegar aos US$ 13,5 bilhões para as
28 unidades.
O diretor do BNDES afirmou que as primeiras sete sondas têm índices gerais de
conteúdo nacional que começam em 55% e chegam a 65%. Mas também há requisitos
específicos de nacionalização para os pacotes de perfuração e de posicionamento
dinâmico que vão equipar as unidades. O banco considerou um prazo médio de
amortização de 15 anos para essas sete sondas.
Considerando que o banco pode financiar até 80% dos serviços e até 100% dos
bens nacionais, Zurli estima que o BNDES deve entrar com 45% a 50% do valor das
sondas. Cada uma vai pertencer a uma sociedade de propósito específico (SPE) que
terá a Sete Brasil e um operador como sócios. A Sete Brasil entrou com
carta-consulta no BNDES para pedir financiamento para as sete primeiras unidades
que serão construídas no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco. O pedido
ainda está em análise.
Além da sete unidades no EAS, a Sete Brasil ganhou licitação para outras 21
sondas a serem afretadas à Petrobras em contratos de 10 a 20 anos. Zurli afirmou
que o BNDES considera a construção das sondas no Brasil um projeto estratégico
como resultado do impulso que pode dar ao desenvolvimento da cadeia produtiva de
petróleo e gás. A iniciativa também é fundamental para o crescimento da produção
da Petrobras.
As sondas também vão receber financiamentos de outros bancos e haverá
investimentos próprios da Sete Brasil e dos operadores das sondas. "A ideia é
estruturar a melhor forma de financiamento possível", disse Zurli. Ele afirmou
que não será criada uma nova linha de financiamento para as sondas, mas haverá
operações específicas envolvendo cada unidade. O financiamento será em dólares,
a moeda de referência da indústria de petróleo e gás.
Zurli afirmou que houve um esforço do BNDES para tentar reduzir ao máximo o
custo dos financiamentos e acrescentou que a área de crédito do banco vai
precificar as operações de acordo com a estrutura de garantias. O principal
risco a ser considerado é o da construção, mas na visão dele existem
instrumentos de mitigação, entre os quais seguro de performance e o Fundo
Garantidor da Construção Naval (FGCN), gerido pela Caixa Econômica Federal (CEF)
e que cobre 50% do risco de construção. O FGCN é interessante, segundo ele, para
cobrir eventuais atrasos na construção das sondas.
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